Magic Arena e seus problemas...

Por Hélio Barbosa

O programa está em beta fechado, então tudo isso pode ser melhorado, consertado, etc. Calma... Mas tem vários problemas que já estão aí há alguns meses e tem horas que os desenvolvedores parecem aquele tiozão em cima do telhado virando a antena, perguntando se “melhorou ou piorou” sem escutar a resposta. Mesmo assim, análise preliminar, benefício da dúvida, esperar lançar, etc.



Terrenos Raros e “wildcards” (“cartas coringa”)



Sou crítico de terrenos raros quando esses servem para consertar a base de mana. Mana no Magic não é uma qualidade, é um defeito. Um jogador profissional pode perder uma partida contra um jogador de menor habilidade simplesmente se a base de mana do seu deck resolver não funcionar. O sistema de mana do Magic está meio datado e não é bonito. Só que dava para melhorar sem reinventar a roda (no meu mundo ideal não existe lista reserva e as dez old duals são reimpressas em todo core set como incomuns, pra melhorar a vida até no draft).

Você está lá, com seu Grixis Midrange montadinho e pã... Só faltam os terrenos. “Só”. Você tenta usar os terrenos incomuns em vez dos terrenos virados com reciclar de Amonketh. Daí você percebe que quase metade do seu deck é terreno, não rola. Poucas coisas são mais deprimentes do que gastar uma wildcard rara num terreno só para consertar a base de mana.


Fonte: Wizars of the Coast


“Poderia ser pior, o terreno poderia ser mítico”. Então, não. Normalmente carta incomum de Magic ou é ruim ou é bomba, todo deck tem uma dúzia de cartas comuns e o resto é carta rara. É muita carta rara – na edição, no deck, na vida. Muita gente resolve montar o deck e consegue todas as míticas antes (ou muito antes) de conseguir as raras – através do sistema de cartas coringa. E acumule-se entulho incomum e comum no processo. Uma solução para isso no Arena seria poder “quebrar” uma wildcard mítica em 3 raras ou transformar 5 wildcards incomuns em 1 rara.

Enquanto eles não resolvem, tá lá você, conseguindo mais ou menos um terreno por semana, jogando mais ou menos uma hora por dia.



“Mas eles fazem isso pra você gastar dinheiro...” Então, não...



A principal, maior e gigantesca razão – o elefante no meio da sala – é o Magic Duels. Teve um pessoal que gastou dinheiro naquilo e tals... Saiu Amonketh, tinha uma historinha (estranha, diga-se) ali e o pessoal ficou esperando sair Hora da Devastação, pra completar o bloco, por que né... E a agora? Em plano que tem dragão faraó deus, jacaré nada de costas? E eles estão esperando até hoje.
Simplesmente, aconteceu um “não quero mais”. Na prática, a Wizards falou que não ia mais atualizar o Duels e falou “tem esse beta aqui se vocês quiserem continuar me dando dinheiro”. E se a Wizards resolve desistir do Magic Arena para fazer um Magic Online 2.0 versão Windows 7?

Se, mesmo assim, o sujeito não ver problema nenhum em gastar no Magic Arena, vai existir o problema de preço – gastar centenas de dólares para montar um par de decks e acumular um monte de “lixão” no processo. Sim, existem as cartas coringas, mas ter que abrir meia dúzia de boosters em vez de ir numa Liga Arena da vida comprar cartas pode aumentar muito o custo.

Eu não falei investimento, eu falei custo. Porque você nunca mais vai ver a cor do dinheiro – ou não deveria. O único jeito de ganhar dinheiro com a coisa é vendendo a conta, o que sempre é contra os termos de serviço em praticamente tudo que envolva contas, não é seguro para o comprador (que pode ser banido ou vítima de golpe, quando o antigo dono recuperar a conta, etc.) e não é lá das coisas mais práticas.


O T2 não é T2 – ou o Standard esquisito.



Normalmente, todo jogo que envolve farm beneficia mais do que deveria quem “farma” nos ranks mais baixos. E você nem precisa conceder para cair no ranking de propósito, é só usar as técnicas de farm eficiente.

  • Clica em jogar, olha a mão inicial, mulligan pra seis, não é mão boa/a “god hand”, concede;
  • Coagir, viu a “god hand” do outro lado, concede.
  • Ilha + Planície do outro lado, concede.


Fonte: Wizards of the Coast


Babaca? Sim, mas com uma lógica. Quando o sistema tem missões diárias e recompensa vitórias mais do que qualquer outra coisa, naqueles dias em que você não tá muito a fim de jogar, você se sente compelido a “fazer a daily e sair fora”, para não perder alguma coisa (além de tempo).  Usar um deck rápido e conceder quando as chances de ganhar não são lá as maiores acaba sendo uma prática comum nesses jogos. Especialmente quando você está farmando as raras para o seu deck de muitas cores.

Para aliviar isso, o Magic Arena resolver dar um peso para cartas e decks, para evitar que alguém jogando de BR midrange encontre um iniciante usando deck pré-montado. Isso cria outros problemas, um deles é criar cenários de “mirror” com maior frequência. No “melhor de um” ranqueado, compensa você colocar umas duas cartas do side para o mirror no main deck.

Se você é um jogador veterano e quer farmar os iniciantes, jogue com decks sem as cartas mais populares, próximos de decks pré-montados, nos rankings mais baixos. Não é um sistema muito difícil de manipular.

Junta tudo isso e o “T2 não é T2” – mas vai ter rotação mesmo assim...

 

Eventos e recompensas



Dá para montar um deck standard de graça. Um. Quando você começar a juntar terrenos pro segundo, a não ser que você jogue muitos eventos “no modo infinito” (ganha como recompensa o suficiente para entrar em outro evento), outra edição já está para sair, então é melhor esperar e guardar as wildcards, caso o seu primeiro deck desapareça do meta.

No quesito recompensas, o evento Construído Rápido parece ser o melhor formato, depois o Construído Competitivo são ok. Draft rápido com ouro é mais ou menos e depende de uma série de fatores (se os bots não estão fazendo first pick de terreno e os terrenos raros são bons – ex. Dominaria, quantas cartas você precisa da edição, etc. – não adianta ter todas as míticas boas se você não tem nenhum deck). Daí é ladeira abaixo... Draft competitivo é lixoso talvez para não canibalizar outros produtos e o formato “exploração” explora mesmo quem gasta tempo ou dinheiro com aquilo.


Fonte: Wizards of the Coast



Conclusão preliminar - ou será “não existe almoço de graça”?



Para um jogo grátis, Magic Arena deveria ser “mais grátis” e, principalmente, custar muito mais barato para quem não quer e não vai gastar centenas de dólares. “Mas eles precisam ganhar dinheiro, não existe almoço de graça”. Existe sim. Só que de um jeito estranho. Se o jogo é grátis e acessível (ou seja, não é grátis só no papel), atrai gente. Depois que você atraiu um monte de jogadores, basta encontrar uma maneira de vender alguma coisa pra essa gente e ganhar um monte de dinheiro. Você não precisa ganhar 5 de cada jogador se alguém gastar 5000 entre outros motivos, porque o jogo é popular (o sujeito que joga de graça não almoça de graça, ele é parte do produto vendido para quem paga). Agora, quando a economia é pesada, você tem um histórico de “matar jogos” e gastar 200 não te leva lá muito longe... Boa sorte atraindo e mantendo o pessoal que gasta 5000.

Muita gente acha ruim quando alguém reclama de algo gratuito, mas o problema é que essa mesma gente tenta aplicar a “lógica do mercadinho da esquina” para empresas multibilionárias. Se você tem milhões de jogadores e milhares resolvem colocar dinheiro pesado no seu jogo, você ganha bilhões mesmo que a maioria não gaste nada. Se você não tem milhares de jogadores, você não ganha bilhões. E empresas de jogos falam em bilhões de maneira quase desconcertante.

Ao tentar manter alguma paridade com o Magic Online ou de Papel em vez de ter um sistema free to play agressivo em razão do atraso no mercado free-to-play digital (não seria impossível, já que não tem mercado secundário), a Wizards está se perdendo, terminando com um Magic que funciona de um jeito esquisito – T2 que não é T2, draft com bots mais recompensador que draft competitivo, etc, o que pode (e deveria) afastar gente que quer gastar dinheiro. Como dito lá no começo, beta fechado, ainda tem conserto – só que parece que algumas decisões “de cima” estão engessando a coisa.

A interface é meio avacalhada, mas o software funciona bem, embora a truculência do espartano Magic Online seja melhor para lidar com algumas situações (tempo de turno, trocentas fichas, etc.). Dá para brincar de graça – dá. Só que se você quer mais de um deck, acaba sendo mais fácil ter mais de uma conta, para aproveitar o impulso inicial dos primeiros boosters de graça.


Pra deixar o cenário ainda pior para a Wizards no mercado digital, o Richard Garfield (que inventou o Magic – não foi a Wizards) está trabalhando com a Valve num card game digital – Artifact, que vai entrar em beta eventualmente (já se fala em convites). Magic Arena simplesmente não está tão agressivo como deveria, dá um passo pra frente e dois pra trás com frequência e, no fim, simplesmente não vale a pena gastar uma quantidade significativa de dinheiro nele, ainda mais no Brasil. Tirando o pacote inicial (20 conto, ou 5 dólares), eu não gastaria dinheiro nisso agora, não compensa.

Se for para se divertir sem gastar muito, pode ser mais recomendável jogar ligas alternativas em uma loja física, por exemplo, já que a falta de formatos variantes também é um problema no Magic Arena.

Se melhorar muito no futuro, sempre vai existir aquele pezinho atrás por causa do Duels, mas falemos do futuro no futuro, se o caso.

Até!

Comentários