Escrito por: Eidtelnvil, membro do phyrexia.com
Traduzido por: Francisco “Raelthorne” Ferreira
Ertai, de Tolaria
A Guerra Phyrexiana foi uma batalha sangrenta, a qual ceifou incontáveis vidas em ambos os lados do combate. Foi uma guerra de mana e esperteza, onde os traiçoeiros phyrexianos corrompiam as mentes dos defensores de Dominária sempre que podiam. Urza Planeswalker, Crovax, de Urborg, o Magistrado de Mercádia, Radiant, do Reino de Serra – todos, em algum ponto, foram tragados do caminho da luz para o reino das trevas devido à visão deturpada de Yawgmoth. Mas a maior dessas trágicas histórias de corrupção talvez seja o conto de Ertai, de Tolaria.
”Porque eu deveria me vangloriar? Os bardos o farão por mim – e com música. Sou um mago modesto demais para revelar a total extensão de minhas habilidades”
Ficha Resumida – Ertai
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Naturalidade
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Dominária, ilha de Tolaria
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Nascimento
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4186 AR (Argivian Reckoning)
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Morte
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4205 AR
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Forma de Vida
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Humano (4186 – 4205 AR)
Humano (modificado) (4205 AR)
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Ertai foi matriculado na Academia Tolariana em tenra idade. Durante seus longos períodos de estudo Ertai provou ser um garoto prodígio, aprendendo magias que outros magos levariam anos para assimilar. Assim que Ertai atingiu a adolescência suas conquistas pareciam não ter fim. De fato, a dedicação de Ertai foi recompensada próximo aos seus dezesseis anos de idade, quando o Mago Mestre Barrin lhe concedeu o título de Mago Graduado. Ertai mal teve tempo para se acostumar com a gloriosa menção, quando Barrin lhe apresentou um desafio. A filha de Barrin, Hanna, há muito em desacordo com seu pai, havia retornado a Tolaria a bordo de uma estranha nau voadora. Acompanhavam-na uma variedade de estranhos indivíduos, todos dedicados a um objetivo em comum. Bons Ventos, artefato estranho e maravilhoso, havia, recentemente, perdido sua capitã, versada em magia, no plano de Rath. Hanna pediu a ajuda de Barrin, mas o mago, em meio a sua infinidade de ocupações, optou por enviar Ertai em seu lugar. Ertai demonstrou sua vastidão de habilidades à tripulação, ganhando o respeito de todos, exceto de um deles: a própria Hanna. A filha de Barrin era da opinião de que os artefatos seriam a onda do futuro, muito superior a qualquer tipo de mágica, em forma e função. Ertai discordava, tanto que em seus estudos na Academia Tolariana ele evitava os artefatos o máximo possível. No entanto, o então capitão da Bons Ventos, Gerrard Capashen, julgara Ertai habilidoso o suficiente para a missão de resgate em Rath. Gerrard estava, aparentemente, no centro de um misterioso destino, o qual estava conectado de alguma forma a um conjunto de artefatos conhecido como Legado. Apesar de não conhecer nada sobre o Legado, Ertai encarou o afastamento de Tolaria como um meio de espalhar sua fama através do mundo, deixando, com alegria, o lugar que por tanto tempo foi seu lar.
“Tolaria paira sobre uma roleta russa.”
Antes que a Bons Ventos pudesse entrar em Rath, Ertai deveria decifrar o enigma do Cristal deThran. Era dito que este fantástico dispositivo tinha o poder de teletransportar a nau e todos a bordo dela para outros mundos. Ertai dedicou seu tempo a aprender mais sobre esse artefato peculiar, sentindo-se muito confiante de que, com estudo suficiente, eles teriam, em pouco tempo, Bons Ventos em vias de resgatar sua capitã. Durante esse período Bons Ventos realizou inúmeras viagens. A primeira delas se deu nas terras devastadas de Bogardan, onde Gerrad liderou um grupo em busca de Starke. Starke serviu por muito tempo como assassino pessoal do evincar Volrath, de Rath, e sem dúvida proveria muitas informações sobre o plano, e seus perigos iminentes. Em seguida, Bons Ventos rumou para os pântanos de Urborg, a fim de recrutar Crovax, um nobre dominado pela loucura, devido a morte de seus familiares. Após completar essas duas missões, Bons Ventos estava pronta para partir rumo a sua mais sombria viagem.
Ertai conjurou uma magia sobre o Cristal de Thran, transportando Bons Ventos até o terrível plano de Rath. Quase imediatamente após adentrar o plano, Bons Ventos foi atacada pela Predador, a nau capitânia de Volrath. Predador logo se mostrou superior à Bons Ventos, não demorando muito para emparelhar com a nau viajante. Durante a primeira investida do combate, Gerrard foi jogado pra fora da embarcação pelo braço direito de Volrath, Comandante Greven il-Vec. Não bastasse isso, os moggs soldados de Greven, horríveis goblins a serviço de Volrath, roubaram partes do Legado. Entre os artefatos saqueados havia o Cristal de Thran, o qual estava seriamente danificado pelos abalos sofridos no ataque. Predador então pariu, deixando Bons Ventos num estado muito pior do que quando ela chegara.
Ertai ajudou Orim, o médico da embarcação, das várias maneiras que ele conseguira, após o combate. Hanna, atuando como capitã da nau, ordenou pouso na porção de terra mais acolhedora que era possível enxergar: uma estranha floresta aparentemente impenetrável pelas copas das árvores. Logo chegaram até Ertai notícias de que o ataque teria sido mais prejudicial do que aparentava. Karn, o Golem de Prata, parte do Legado, teria sido também levado pelas forças de Greven. Além do que, o primeiro imediato, o minotauro Tahngarth, também teria sido capturado. Ertai começava a acreditar que suas viagens a bordo de Bons Ventos não seriam tão grandiosas quanto ele gostaria. A embarcação conseguiu pousar na floresta, e a tripulação iniciou os reparos necessários. Assim que o trabalho se iniciou, Hanna e Mirri, guerreira do povo felino, e grande amiga de Gerrard, deixaram Bons Ventos em busca do corpo de seu capitão.
Durante a ausência de Hanna e Mirri, Bons Ventos foi, mais uma vez, tomada por uma onda de má sorte. Um clã de elfos, aparentemente encarando como ameaça a chegada da nau em seu território, estava lentamente cercando a embarcação. Crovax e Ertai se ocupavam em manter os elfos a uma distância segura, pois nenhum lado pretendia ser o agressor. Mais tarde, naquele mesmo dia, logo que o ataque dos elfos parecia iminente, volta à Bons Ventos Gerrard Capashen. Intacto, e sem uma lesão, o capitão ordena aos elfos de Skyshroud uma paralização.
Ertai descobriu que Gerrard Capashen foi, inadvertidamente, salvo da morte certa pelo anjo guardião de Crovax: Selenia. Independentemente de quão boa tivesse sido essa notícia para a tripulação, também significava que a amiga e amante de Crovax estava agora a serviço do mestre de Rath. Aparentemente, Gerrard havia sido aclamado como Uniter místico dos povos livres de Rath, cumprindo assim uma profecia secular. A aparição de Gerrard inspirou os rebeldes de Rath, incluindo os elfos de Skyshroud, a se unirem em um ataque contra o domínio de Volrath. Um plano havia tomado forma: enquanto os elfos e as tribos humanas de Vec e Dal atacariam o Forte de Volrath pelo portão principal, Bons Ventos poderia adentrar, completamente despercebida, a fortaleza. No entanto, ainda havia um pequeno problema: o Cristal de Thran estava danificado além de qualquer chance de reparo. Se Bons Ventos precisasse escapar de Rath, seria necessário encontrar um outro meio de teletransportar a nave para outro plano. Eladamri, líder dos elfos de Skyshroud, contou a Gerrard sobre um portal que dizia-se levar para outro mundo. O capitão tratou de investigar essa passagem planar, seguindo, alguns dias depois, para uma ravina próxima à floresta.
Ertai e Orim iniciaram então a análise da misteriosa passagem. Ertai estava certo de que um dia de estudos seria suficiente para compreender os hieróglifos inscritos no portal, e assim abri-lo. Gerrard, mesmo relutante, deixou Ertai no desfiladeiro enquanto o restante da tripulação rumava para o Forte. Durante seu afastamento da Bons Ventos Ertai foi contatado por um fantasma deveras peculiar. Lyna, uma mensageira de uma raça de fantasmas conhecida como Soltari, surgiu diante de Ertai oferecendo-lhe auxílio. A raça de Lyna, há muito tempo, fora aprisionada entre a realidade e o mundo dos pesadelos, sendo arrastados de Dominária para o plano de Rath, há centenas de anos atrás. Em troca de sua ajuda, Lyna pedira apenas que seu povo pudesse deixar essa existência perturbadora, sendo permitido a eles atravessar o portal. Ertai considerou o acordo uma troca justa, contanto que Lyna fosse até o Forte de Volrath, avisar seus amigos de seus planos. Lyna então partiu, deixando o mago na inspeção do antigo portal.
“Não me cabe o calor da compaixão”
Logo se tornou claro que Ertai jamais conseguiria abrir o portal. O mago graduado estudara noite e dia, mas não conseguira sequer ter idéia do tipo de forças mágicas contidas na passagem. O dia se tornava noite, quando Ertai divisou uma cena aterradora: Bons Ventos rumava em direção ao portal em uma velocidade incalculável, muitas vezes mais rápido do que jamais havia voado. Predador perseguia a embarcação menor, se aproximando cada vez mais. Assim que Bons Ventos adentrou o desfiladeira, o portal, explodindo em luzes, se abriu. Ertai cerrou os dentes e saltou para uma das laterais da ravina, procurando desesperadamente uma maneira de cair sobre Bons Ventos. Os momentos seguintes foram terríveis, mas logo ficou claro que a Bons Ventos havia passado através do portal. Mal a embarcação havia atravessado, a passagem se fechou, quase tão imediatamente quanto se abriu, fazendo com que a Predador se estraçalhasse nas rochas, quase destruindo-a por completo. Quanto a Ertai, ele havia conseguido se jogar sobre uma das naus. Infelizmente, seu perigoso salto teve como destino a sombria Predador. Enquanto os olhos de Ertai encaravam os de Greven il-Vec, o mago jurou vingança a Gerrard Capashen e toda sua tripulação, por deixá-lo à mercê deste terrível destino.
Ertai foi imediatamente aprisionado pelas forças de Greven, e trancafiado nas entranhas da Predador. A embarcação semi-destruída retornava penosamente para a base, quando Ertai percebeu que a única maneira de se sair bem era tirar proveito da situação. Greven admitiu que sem a ajuda do mago graduado, a nau iria quebrar de vez antes de chegar ao Forte. Ertai, quase que ansiosamente, fez reparos em Predador, utilizando-se de suas consideráveis habilidades arcanas, ganhando a admiração, se não a confiança, de Greven il-Vec. Chegando ao Forte Ertai percebera que a construção não era centro de uma obediência cega, como o mago acreditava. A fortaleza estava tomada pelo caos, aparentemente devido ao desaparecimento de seu mestre, Volrath. Em recompensa pelos seus serviços prestados, foi permitido a Ertai examinar um misterioso artefato, capaz de estabelecer comunicação entre Rath e Phyrexia: lar dos verdadeiros mestres que detinham o poder por trás do trono de Rath. Esses seres estranhos informaram Greven da vinda de um embaixador phyrexiano, que decidiria quem substituiria Volrath.
“Sempre há por perto alguém maior, que espera que você se curve e se humilhe, só para manter boas relações, não é?”
Ertai foi violentamente carregado até a antiga base de Volrath para testemunhar uma estranha visão. Crovax, o nobre de Urborg, acompanhante de Ertai na Bons Ventos, estava vivo e em segurança. Além disso, ele estava reivindicando o título de evincar de Rath.
Antes que a fúria de Greven tirasse a vida de Crovax, o embaixador phyrexiano surgiu de repente. Aparentando ser uma jovem elfa de poucas centenas de anos, a embaixadora deu um basta no confronto entre Crovax e Greven il-Vec. Ao vislumbrar a Embaixadora Belbe, Ertai sentiu uma estranha conexão com a garota. Belbe ordenou que Greven levasse Ertai até as câmaras de tortura do Lorde do Medo, para extirpar toda e qualquer informação possível. Ertai, um completo fracasso quanto a resistir à dor física, concordou prontamente em revelar qualquer informação a seus novos mestres. No entanto, desta maneira, a sede por tortura de Greven não seria saciada. Diante disso, não demorou muito para que Ertai sentisse a fúria do Lorde do Medo.
Quando Ertai finalmente acordou, ele contemplou a estranheza da jovem elfa Belbe, que veio a seu encontro, oferecer toda ajuda que estivesse a seu alcance. Belbe confidenciou a Ertai que ele havia se tornado um dos candidatos para assumir o trono de Rath. Mas de qualquer maneira, a disputa seria brutal. Greven era um experiente guerreiro, e muitos dos segredos de Volrath eram confiados a ele. Crovax havia sido levado a Phyrexia e imbuído em parte do poder d’O Oculto. Para que Ertai tivesse esperanças de competir contra estas forças, ele tinha muito a fazer e a aprender.
Belbe conduziu Ertai a um dos laboratórios de Volrath. No centro do galpão havia um estranho maquinário, capaz de imergir um corpo numa infusão de mana preta, curando todos os ferimentos, porém, obviamente, turvando a mente. A despeito de seu orgulho, Ertai temia nunca mais conseguir conjurar as mágicas de que tanto se orgulhava em seus dias de juventude. No entanto, agarrar-se aos cabos de Predador havia retalhado as mãos do mago graduado, impedindo-o por completo de manipular energia arcana novamente. Por fim Ertai, relutantemente, concordou em utilizar a máquina. Imediatamente seu corpo foi restaurado, no entanto, o mago sentiu que sua afinidade com as cinco cores da magia fora abalada.
Dias se passaram, e Ertai iniciava o longo período de recuperação. O jovem arcano passava muito do seu tempo na companhia de Belbe, eventualmente questionando-se como tal criatura, tão maravilhosa, poderia existir para servir aos caprichos doentios de Phyrexia. Greven il-Vec logo surgiu com notícias preocupantes para Ertai e Belbe. Crovax havia deixado o Forte com um enorme contingente de guerreiros il, a fim de acabar de uma vez por todas com a ameaça dos rebeldes comandados por Eladamri. A passagem de Gerrard Capashen por Rath desencadeara um efeito desastroso na fortaleza, diminuindo seu contingente de tropas. E agora, o Forte deveria enfrentar não apenas os elfos de Skyshroud, mas também os humanos rebeldes das tribos Vec e Dal. Além do que, Greven temia que assegurar uma vitória sobre os rebeldes incentivaria as tribos humanas a se retirarem para viver no interior das montanhas, permitindo assim a continuidade da revolta. Ertai desenvolveu então um plano tanto brilhante quanto audacioso: tomar como reféns muitos dos il-Vec, il-Kor e il-Dal, desencorajando as tribos humanas a levantar armas contra a fortaleza. A inesperada crueldade do Tolariano impressionou Greven. Nesse período deu-se também a notícia de que Greven não mais queria disputar pelo trono de Rath. Apesar das dúvidas de Belbe quanto à notícia, Ertai se tranqüilizou, pois passara a ter apenas um rival contra o qual brigar pelo poder.
As semanas de Ertai no Forte se tornavam meses, quando o jovem mago se deu conta de algo aterrorizante. Embora seu corpo tivesse sido completamente restaurado pelo aparelho de infusão de mana, seus efeitos de regeneração começaram a se mostrar ser apenas temporários. Ertai deveria usar o aparelho continuamente caso quisesse reclamar o trono de Rath.
O plano de Ertai, o de capturar os humanos dos vilarejos, estava funcionando perfeitamente. Ertai e Belbe viajavam juntos para a Cidade dos Traidores, eventualmente cruzando com o Comandante Greven. Até então, o Forte já detinha cerca de seis mil reféns. Infelizmente, Ertai e Greven estavam entrando em desacordo quanto a quais reféns seriam de mais valia. Ao invés de capturar os homens mais fortes, Greven preferia raptar os fracos e indefesos. Desta maneira, o capitão esperava disseminar o medo através dos vilarejos ainda não dominados, os quais não ousariam erguer uma arma sequer contra o trono se suas mulheres, idosos e crianças estivessem sob ameaça. Apesar da inconseqüência de Greven, o plano de Ertai prosseguia sem problemas.
“Eu tinha a ilusão de que conhecia o certo e o errado. Isso foi antes de iniciar meus estudos avançados em magia. Então eu entendi: poder é poder, independente de sua origem. Qualquer substância pode ser usada para matar ou para curar, e se assim é, como alguma delas pode ser boa ou má? Elas simplesmente são o que são. E acho que com as pessoas funciona da mesma maneira. Nós somos o que somos.”
Dias depois foi confiado a Ertai um terrível segredo: todos os seis mil reféns desapareceram sem deixar vestígio. Ertai e Belbe dispararam para a Cidade dos Traidores, apenas para se depararem com uma visão ainda mais aterradora, mais do que qualquer outra coisa que eles já haviam presenciado: mulheres, homens e crianças; seis mil corpos, executados a sangue frio. Em meio à carnificina, estava Crovax, sentado calmamente, apreciando sua sangrenta refeição. Crovax explicou como suas energias haviam sido drenadas em sua expedição até a floresta de Skyshroud: um esforço inútil que havia custado a vida de praticamente toda a sua tropa. Para reabastecer seus poderes, o nobre de Urborg precisava se alimentar das almas de suas vítimas; e para essa finalidade os reféns haviam sido o banquete perfeito. Ertai então percebeu como ele havia sido ingênuo ao pensar que poderia usurpar o trono de Crovax. Não havia inteligência, sagacidade, ou poder mágico que pudesse sobrepujar tal sede de sangue.
“Como posso derrotar um homem que pratica atos como este? Como você pode permitir a dominação deste monstro sobre todo esse mundo?”
Enquanto a, já restaurada, Predador trazia o restante do contingente de Crovax de volta para o Forte; Ertai e Belbe passavam cada vez mais tempo na companhia um do outro. Ertai sentia que sua relação com Belbe seria a coisa mais próxima de uma amizade que ele viria a ter nesse mundo sombrio. Belbe confidenciou a Ertai que ela havia sido mandada a Rath com um único propósito, e tratava-se de algo crucial para os planos d’O Oculto. Os sacerdotes d’O Lorde das Trevas Yawgmoth implantaram um pequeno artefato no corpo de Belbe, o qual transmitia ao deus dos metais tudo o que ela presenciava. Belbe era muito infeliz por conta dessa existência medíocre, o que instigou Ertai a procurar, de alguma forma, meios para minimizar o sofrimento da elfa. Por fim, o mago conjurou um feitiço cujo efeito inutilizava o mecanismo de comunicação por um curto período de tempo. Após satisfazer o maior dos desejos de Belbe, Ertai e a mensageira Phyrexiana compartilharam uma breve noite de amor em meio aos horrores dos aposentos de Volrath.
“Tenho um pensamento a compartilhar contigo, Belbe. Viva para ser você mesma! Lealdade é uma peculiaridade admirável, mas não pode apegar-se a ela frente à certeza de destruição.”
Ao acordar, Ertai não encontrou Belbe. No aposento encontrava-se o futuro evincar de Rath. Crovax zombara do mago, alegando que sua real intenção seria obter a ajuda de Belbe em prol de suas maquinações. Ao retornar, a elfa despachou Crovax para o Forte, ordenando que fosse cumprir com suas obrigações. Abalada, Belbe confessou a Ertai que seu maior pesar não era, de fato, o Olho de Yawgmoth, mas a doentia satisfação que a tomava quando a mensageira causava sofrimento ao bárbaro Crovax.
Um acontecimento extraordinário, há muito nos sonhos mais ambiciosos de Volrath, havia acabado de ocorrer: Eladamri fora capturado. Ertai teve poucos momentos para discernir a notícia, quando ele próprio fora surpreendido pelos lacaios de Crovax. Logo que soube da prisão de Ertai, Belbe apressou-se a encontrá-lo, mas de nada adiantou. Crovax e seus homens prometeram dar um fim à vida de Ertai caso a embaixadora phyrexiana não elegesse o, outrora nobre, como novo evincar. Relutante, e sem alternativas, Belbe concordou, no dia seguinte, em nomear Crovax o novo senhor do mundo de Rath.
Com a vitória assegurada, Crovax capturou Ertai numa armadilha mortal. O mago foi aprisionado em uma imenso bloco de rochafluente, próximo a escotilha externa inferior da Predador. Ali, a proximidade do raio de plasma, que transformava a lava proveniente do centro de Rath em rochafluente, derreteria lentamente o bloco, levando Ertai à destruição iminente. No entanto, o Tolariano ainda contava com alguns recursos mágicos: Ertai conjurou uma pequena esfera, poderosa o suficiente para achar Belbe, e hipinotizá-la para que ela viesse resgatá-lo.
Cerca de uma hora depois, Belbe se apressou em auxílio de Ertai. Há apenas alguns momentos da morte, o mago apenas pôde, desesperançosamente, encarar seu terrível destino. Crovax seguiu Belbe até a câmara da armadilha, prometendo livrar o jovem mago, caso a embaixadora deixasse todo fingimento de lado, e lhe coroasse como mestre de Rath. Sem alternativa, Belbe concordou sem hesitar. Ertai foi libertado, e deixado para morrer no terrível calor, enquanto mais um monstro seria coroado rei de Rath.
Ertai, lenta e penosamente, se arrastou para fora da câmara; encontrando, de alguma forma, forças para atravessar os labirínticos corredores do Forte, para chegar à sala do trono. Uma vez lá, Ertai só pôde, sem palavras, assistir ao desenrolar dos acontecimentos. Instantes antes de Crovax ser nomeado evincar, um novo candidato havia surgido. O homem responsável pela extinção de incontáveis raças, autor da morte de milhões de nobres almas, retornou para tomar o que é seu trono, por direito: Volrath havia voltado. Como última oportunidade de impedir o monstruoso Crovax de assumir o poder, Belbe ordenou que se iniciasse uma disputa. Crovax e Volrath entrariam em combate, e o vencedor assumiria o poder como senhor do plano de Rath, e em breve, do plano de Dominária. O duelo se estendeu por horas, até que Ertai tomou uma decisão fatal. O jovem mago percebeu que sobre o comando de Volrath, ele logo seria executado como antigo aliado de Gerrard Capashen; e que apenas com Crovax no poder, o mago teria alguma utilidade. Utilizando-se de suas últimas forças, Ertai manipulou o piso de rochafluente sob os combatentes, derrubando Volrath, e fornecendo uma grande vantagem a Crovax. Assim que Crovax cravou sua bota no pescoço do antigo evincar, Belbe não pôde mais negar-lhe o poder, nomeando-o senhor de Rath.
Ertai rapidamente se dirigiu para o infusor de mana, recuperando suas forças em poucos segundos. Depois de restaurado, o mago seguiu os sons de combate proveniente dos Salões dos Sonhos. Pelo caminho, Ertai descobriu que o Senhor dos Elfos, Eladamri, foi libertado por um bando de rebeldes disfarçados de servos da fortaleza. As tropas de crovax haviam perseguido os rebeldes até os Salões dos Sonhos, impedindo-os de escapar; porém, em seu caminho os soldados haviam encontrado um impenetrável paredão de rochafluente. Ertai se voluntariou a serviço no novo evincar de Rath. Crovax assumiu não ter deixado passar despercebidas as maquinações do arcano, e, além de tudo, diferentemente de Volrath, Crovax sabia como tratar seus aliados. Mesmo assim, em seu coração, Ertai temia os acontecimentos futuros, que deveriam ajudá-lo. Ainda pior que isso, ele havia desvendado os planos de Belbe. A embaixadora havia, sem sombra de dúvida, oferecido uma rota de fuga de Rath, através da passagem pela qual ela mesma havia chegado ao plano. Os temores de Ertai se confirmaram assim que os homens de Crovax investiram salão adentro. Poucos rebeldes haviam restado no aposento, e logo sucumbiram à fúria dos soldados de Rath. Ao centro do salão, estava o corpo falecido de Belbe, cuja vida foi tomada de Ertai assim como outrora fora tirada suas chances de retornar à Dominária.
Deste modo deu-se a queda de Ertai. O mago, uma vez nobre, apesar de arrogante, foi acolhido sob a proteção do novo evincar de Rath. Ertai foi levado a Phyrexia, onde seu corpo teria sido mutilado, para dar forma a uma nova carcaça: uma repugnante paródia de sua antiga forma. A pele de Ertai se tornou rochosa e retorcida. Seus traços joviais foram tão deformados que ele deveria ser mantido, para o resto de seus dias, fora das vistas de outras pessoas. Seus braços, armas importantes para um mago, foram transmutados, com apêndices funcionais crescendo a partir dos cotovelos. Assim Ertai retornou a Rath, corrompido por completo, entregue à crença de um poderoso falso-deus, e tomado por uma presunção tão sombria, que só poderia ter surgido a partir de sua mente atormentada.
Uma vez que havia retornado a Rath, Ertai tinha uma última obrigação a cumprir antes da ocorrência da grande conjunção dos planos. Ertai havia criado uma substância vil, capaz de separar átomos, desfazendo um corpo em inúmeros pequenos pedaços. Assim que sua criação havia sido finalizada, Crovax ordenou que Ertai injetasse o flúido no braço que govenou a justiça de Rath por quase uma década. E assim, Ertai destruiu o corpo de Voltarh, afirmando a vitória de Crovax de uma vez por todas. Antes de voltar a seus afazeres, Ertai dedicou um tempo para refletir sobre seu antigo amor pela embaixadora phyrexiana Belbe, cujo corpo estava para ser cremado. Contemplando as cinzas da elfa, Ertai percebeu que uma parte do seu corpo ainda estava intacta: o Olho de Yawgmoth. Temendo, mais do que nunca, as maquinações do Lorde das Trevas, o mago estilhaçou o artefato antes de retornar a seus aposentos, no Forte.
Nos dias que se seguiram, Ertai se preparou para o confronto final contra as forças de Dominária. Junto a Crovax e a Greven, o mago corrompido iniciava o planejamento das funções do Forte na vindoura sobreposição planar. A primeira onda da invasão já irrompera. Phyrexia havia conquistado muitas vitórias cruciais, no entanto, jamais havia estabelecido uma posição segura no plano de Dominária. Além do que, essa pequena desvantagem pouco importava, perante os horrores que estavam por vir. Assim que a sobreposição de Rath se completou, o Forte tomou seu lugar próximo a província da família de Crovax: os pântanos de Urborg.
Finalmente, a presença da fortaleza não pôde mais ser tolerada por Bons Ventos. Greven e Ertai, à bordo da Predador, atacaram a nau, assim como meses antes, durante a incursão da embarcação em Rath. Desta vez, no entanto, a vitoriosa não foi Predador. Enquanto Greven liderava um ataque direto à tripulação da Bons Ventos, Ertai dissimulara sua presença até que estivesse perto o suficiente do comandante da embarcação, Gerrard Capashen. O cadáver de Greven era arremessado para fora da nau pelo minotauro Tahngarth; ao passo que Ertai se agarrara a Gerrard e ao goblin Squee, teletrasportando-os para o salão do trono de Crovax.
“Não se preocupe, Gerrard. Tenho certeza que a tripulação logo virá te resgatar, assim como fizeram comigo.”
Ertai manteve Gerrard como refém, enquanto Crovax tentava expor o ponto de vista de Yawgmoth ao mestre-de-armas de Benália. Gerrard era irredutível, recusando prontamente qualquer benefício oferecido, contanto que ele se unisse às forças phyrexianas. Recompensando a inflexibilidade do capitão, Crovax executou Squee a sangue frio, perante os olhos de Capashen. O lorde de Rath revelou a Gerrard como Yawgmoth havia trazido seu amor, o anjo Selenia, de volta a vida; e como ele poderia fazer o mesmo com sua tão adorada Hanna (que havia perecido por conta da praga phyrexiana). Tomado pela ira, Gerrard escapou dos grilhões de Ertai, investindo contra o evincar sem obter sucesso. Em poucos momentos, o capitão estava novamente à mercê de Crovax.
O lorde de Rath tentara mostrar a Gerrard como a Coalizão de Dominária estava fadada a destruição. As vidas do comandante metathrano Agnate, e do lorde dragão Rhammidarigaaz já haviam sido tomadas. Além do que, a maior das esperanças da Coalizão estava nas garras de Yawgmoth: Urza Planeswalker, fundador da Academia Tolariana, destruidor de Argoth, e última salvaguarda do povo de Dominária, reverenciava, agora, o Pai das Máquinas. Tanto foi revelado a Gerrard Capashen, que um portal direto para o coração de Phyrexia fora aberto. Lá estava Urza, prostrado em adoração. Em suas proximidades, os olhos atormentados de Hanna, o amor de Gerrard, imploravam para que o Benaliano entrasse e a envolvesse em seus braços. Como um fantoche, Gerrard aceitou à proposta de Crovax. Dois dos maiores líderes de Dominária haviam se curvado em veneração ao deus de Phyrexia.
Enquanto o Lorde das Trevas se preparava para sua mais nova recompensa, Ertai e Crovax se regozijavam em meio à glória da vitória absoluta. Crovax se divertia em ocasionais batalhas contra Yavimaya, a nação-floresta que, de alguma forma, havia transportado parte de si mesma para Urborg. A mente corrompida de Ertai estava mais do que satisfeita em poder atormentar Squee com a eterna tortura que esperava pelo goblin. Para demonstrar a Gerrard o domínio de Yawgmoth sobre a morte, Crovax havia pedido ao Pai das Máquinas que trouxesse de volta à vida o corpo do goblin. No entanto o efeito durara mais do que Ertai esperava. Squee podia ser morto centenas de vezes ao dia, e a cada vez ele iria ressuscitar para mais uma sessão de tortura.
Crovax se entregava aos prazeres da batalha, ao passo que Ertai dividia seu tempo entre torturar Squee, e inspecionar os acontecimentos que tomavam forma na Nona Esfera. A imortalidade de Urza lhe foi extirpada, e ele foi forçado a enfrentar seu “filho” bastardo, Gerrard Capashen até a morte. Enfim, Gerrard abriu uma vantagem sobre o planeswalker de quatro mil anos, decapitando a figura tão odiada de seu pai com uma satisfação quase sádica. No entanto, Gerrard levou o Inominável a uma barganha que mudaria o rumo dos acontecimentos. Aparentemente, em recompensa por servir o Lorde das Trevas, Gerrard esperava que Hanna fosse mandada de volta a Dominária, intacta e saudável. Após se dar conta da horrível realidade dos fatos – de que a Hanna diante dele era apenas uma das ilusões de Yawgmoth – Gerrard se rebelou contra o Pai das Máquinas. Capashen fora expelido da Nona Esfera, aterrissando na sala do trono de Crovax. Após a chegada das forças moggs de Ertai, Gerrard fora cercado; o que não impediu que Squee viesse em auxílio de seu mestre. Com um goblin imortal, e um semi-deus tão forte quando o Inominável, o mago estava em maus lençóis, com grandes dificuldades para encontrar uma falha nas defesas de Dominária. Sem muitas opções, Ertai convocou Crovax, obrigando-o a deixar de lado seu divertimento doentio.
Crovax duelava contra o aprimorado Gerrard Capashen, enquanto Ertai perseguia furiosamente o goblin Squee pela fortaleza. Cada vez que Ertai lançava um de seus poderosos feitiços, o goblinóide morria, só para renascer novamente. Com o tempo, o mago corrompido sentiu sua energia minguando. Ertai então tratou de rumar para o infusor de mana, a fim de recuperar seu corpo e restaurar sua mente. Este foi o último ato de Ertai. Em meio a uma febre delirante, causada pelas inúmeras mortes seguidas, Squee atacou Ertai, acreditando que o mago fosse seu prato favorito – um besouro gigante. Ainda enquanto Ertai se recuperava no infusor, o goblin investiu violentamente contra ele, ocasionando uma pane na máquina, o que imediatamente pôs fim à vida do outrora prodigioso arcano.
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