Karona









Traduzido por: João Fernandes Lelis






"Eles choram ao ouvir minha voz, cabeças tensas em corpos destruidos além da esperança. Olhos que me encaram tanto que suas últimas visões serão minhas. Sua angústia me parte ao meio, mas eles gritam meu nome como se eu troxesse esperança. Observe Otária, observe Dominária, Eu sou Karona. Eu sou a mágica."

Dominária não conta com uma escassez de deidades. Em cada plano existe ao menos uma figura a ser endeusada, que é reverenciada e adorada por seus habitantes. No plano negro das máquinas, Phyrexia, Yawhmoth, o deus do metal guinchante é celebrado como criador e pai da raça phyrexiana. Nas florestas de Llanowar e Skyshroud, em Dominária, a planinauta Freyalise é vista como a guardiã da floresta. Mesmo que contos estranhos girem em torno dessas deidades, nenhum desses contos é tão estranho quanto a vida de Karona.

 
O fim das Guerras de Numena em Otária viu três poderosas mulheres lutarem entre si em um conflito que dividiu todo o continente em dois. A zelote angelical Akroma confrontava a cabalista distorcida, Phage, na antiga cidade de Averru com seus dois exércitos. Milhares foram mortos na batalha que se seguiu e nos últimos momentos da contenda a terceira mulher, Zagorka, saltou de uma das torres circundantes para o domo onde Akroma e Phage lutavam freneticamente. Como tudo indicava uma vitória de Akroma, Kamahl, o bárbaro, destruiu as três mulheres com um poderoso ataque de seu machado, o Soul Reaper (Ceifador de Almas). Quando ele fez isso as almas e energias arcanas das mulheres se fundiram em uma luz cegante que engoliu os corpos das três mulheres. Da luz nasceu uma nova entidade que flutuava no ar. Karona, o Falso Deus, a Mágica Encarnada, havia nascido.

Excepcionalmente forte, a entidade recém-nascida era vista como um guia de esperança por quase todos que restavam no campo de batalha. Eles correram ao encontro de sua forma brilhante. Milhares de soldados feridos foram esmagados pela onda de corpos. Horrorizada com o que viu, Karona fugiu de lá, deixando os soldados devastados. Nem mesmo o poderoso Kamahl consegiu resistir a seus charmes e seu grande corpo se curvou em reverência à nova deusa.

Alarmada e confusa com o grande fluxo de pessoas que de repente começou a adorá-la, Karona tentou fugir voando através de uma grande extensão de deserto. Lá, entre areia e pedregulhos ela encontrou dois homens nus que se chamavam Sash e Waistcoat. Ela não tinha ideia de como eles iriam mudar sua breve vida para sempre. Ao invés de adorá-la, os dois homens tentaram se controlar mas acabaram por fazer papel de bobos. Karona estava tão aturdida que ajudou os dois, levando-os para um oasis e curando as suas feridas. Depois de algum tempo, Karona decidiu que eles poderiam ajudá-la a sua verdadeira identidade, então ela decidiu rumar para a cidade de Eroshia, onde eles podiam fingir ser seus discípulos.

Após vestir e alimentar seus dois discípulos, Karona seguiu para Eroshia, onde ela pretendia descobrir algo sobre seu passado. Pelo caminho eles encontraram um grupo de refugiados que fugiam da guerra em Averru. Ao vislumbrarem Karona eles cairam de joelhos. Relutantemente, Karona permitiu que eles a seguissem à Eroshia. Ao chegar lá eles não foram bem recebidos, pois, aparentemente, o governador de Eroshia, Governador Dereg, reconheceu Sash e Waistcoat como sendo causadores de problemas e se recusou a permitir a entrada deles na cidade. No entanto, ao olhar para Karona, o governador caiu de joelhos, do mesmo modo que seus seguidores, e a recebeu com muito entusiasmo.

Após passar alguns dias na cidade, Karona chamou um conselho com todas as mais importantes figuras de Eroshia, para decidir o que ela era. Houveram muitas sugestões para sua identidade, variando do espírito de uma antiga nau, a Bons Ventos, até o fantasma de Serra. No entanto, seu discípulo Sash chegou a uma brilhante conclusão - Karona era a mágica manifestada. Emocionada com a descoberta, Karona instantaneamente aderiu à ideia e após alguns dias ela deixou Eroshia para ir às montanhas testar seus recém-descobertos poderes.

Ainda que confusa sobre o que podia fazer, Karona virou-se para seus dois discípulos atrás de conselhos. Após muita tentativa e erro, Sash e Waistcoat descobriram que os poderes de Karona eram baseados na fé e os dois acabaram por recriar a Lua Nula Thran, que havia sido demolida 100 anos atrás, na Invasão Phyrexiana, antes de destruí-la novamente.

Algumas horas após a descoberta dos poderes, milhares de adoradores fervorosos e devotos novamente apareceram para adorar a deusa. Frustrada com os adoradores, Karona não queria mais que eles a aportunassem, então ela usou seus vastos poderes para criar um poço sem fundo, onde centenas cairam. Vários outros teriam caído pelo poço, se seus discípulos não a tivessem convencido a parar.

Buscando por outra deidado para ajudá-la a usar seus poderes, Karona conjurou 5 portais, um para cada cor de magia. Cada portal abriria um portão para uma das mais famosas deidades de Dominária. Do portal verde apareceu o avatar da natureza conhecido como Multani. Para seu desapontamento, Multani disse à Karona que ele não era um deus, mas servia Gaea, que era a deusa da terra. Multani também revelou que Karona se opunha à Gaea, uma vez que a mágica era tirada da terra. Desanimada, Karona mandou Multani de volta à seu portal.

"Gaea me rejeita... Então também a rejeitarei."

O próximo ser, trazido pelor portal vermelho, era um anão. Ele se apresentou como Fiers e admitiu à Karona que ele era um planinauta que era adorado como um deus pelos anões de Dominária. Sem se impressionar, Karona o enviou de volta à seu portal. Desesperada, a deusa abriu o portal preto e imediatamente se aterrorizou com a voz de puro mal que irradiou dele. A voz assombrada a convidava a entrar no portal. Incerta, Karona perguntou várias vezes pelo nome do dono da voz, até que finalmente ele se revelou como sendo Yawgmoth, o Inefável, que havia sido banido de Dominária por causar um apocalipse devastador. Vendo que ele não seria de ajuda, Karona rapidamente fechou seu portal, preferindo uma deidade mais convidativa.

Karona sentiu uma estranha afinidade pelo homem de um braço que emergiu do portal azul. O homem revelou-se como sendo Ixidor, criador de Akroma, mas algo fez com que Karona acreditasse que ele não estava revelando tudo que sabia. Quase instantaneamente, ela sentiu que ele estava indo para o Grande Coliseu, ao sul de Aphetto. Apesar disso ela permitiu que ele retornasse ao seu portal e voltasse a cuidar de sua própria vida.

O último portal era o branco, e um homem de pele negra saiu dele. O homem que era conhecido como Teferi também se revelou um planinauta e explicou que ele havia retirado de fase uma grande parte do super continente de Jamurra, para proteger seus habitantes. Como ele não parecia querer ajudá-la, Karona decidiu seguir o caminho mais promissor, que era o de Ixidor.

Com um novo senso de identidade, Karona foi para o Grande Coliseu, ao sul da barulhenta metrópole de Aphetto, para seguir Ixidor. O Grande Coliseu era uma construção gigantesca que podia suportar dezenas de pessoas em seus bancos de pedra. Entretanto, enquanto Karona se aproximava do Coliseu, a platéia correu ao mesmo tempo para ir de encontro à sua forma brilhante, fazendo com que grande parte da estrutura circular desabasse sob seu peso, matando milhares de inocentes espectadores sobre uma pilha de cascalho e corpos. E ainda assim não havia sinal de Ixidor e Karona passou a suspeitar que ele havia transcendido a existência mortal, tornando-se um doa Numena, e que estava conspirando contra ela com seus dois irmãos, Kuberr e Averru.

Karona sabia o que fazer. Para evitar ser morta pelos três Numena ela devia pará-los antes que eles pudessem agir, e onde mais eles poderiam se esconder e conspirar se não na cidade de Averru? Com Sash e Waistcoat junto dela, Karona moveu-se ao leste, em direção à Averru, novamente deixando centenas de seguidores desapontados.

Horas depois, Karona chegou à Averru e sobre os céus da cidade havia um ser que flutuava no ar como ela. O ser, que se chamava Arien, disse a ela que se aproximasse e despertou sentimentos nela que ela nunca havia sentido antes. Atraída à Arien como uma moariposa se sente atraída à uma chama, Karona tentou se aproximar do estranho ser, mas repentinamente se viu sob ataque dos três Numena. Incapaz de escapar, Karona resistiu à incontáveis ataques mágicos, perdendo grande parte de seus poderes mágicos no processo. E então, quando ela estava próxima da morte, ela se viu junto de seus dois discípulos em um estranho lugar que com certeza não era Dominária.

Karona havia chegado às Eternidades Cegas, um espaço infinito entre planos que guardava os caminhos de numerosas pessoas através da história. Desesperada para escapar do estranho lugar, Karona seguiu um caminho aleatório para outro plano. Instantaneamente céus amarelos tomaram o lugar da escuridão das Eternidades Cegas. Perplexa com sua localização, Karona decidiu pedir ajuda aos habitantes locais e disse "Gerrard Capasheno", um estranho nome que ela havia ouvido nas Eternidades Cegas. A reação dos habitantes locais não foi nada boa, eles começaram as calúnias, dizendo que ela estava associada aos rebeldes Cho-Arrim e aos "hereges". Aterrorizada, Karona fugiu, indo à outro plano.

O próximo plano era um lugar cheio de prados flutuantes e o a paisagem estava imóvel em um pôr-so-sol. O próprio ar trazia paz e cura aos membros cansados dos dois discípulos. A única pessoa que ela viu era uma criatura angelical que veio dar-lhe as boas vindas. Depois de explicar a situação, a figura angelical devaneou com o fato de que Karona a lembrava de outro ser chamado Planinauta Urza, que havia, sem intenção, causado grande dano ao multiverso com seus esforços para proteger Dominária contra os phyrexianos. O ser angelical também a lembrou de que ela era magia de Dominária e Dominária era seu verdadeiro lar.

Rejeitada de dois planos, Karona voou pelos planos até chegar à Phyrexia, que ainda estava em estado de total destruição, graças às soul bombs que explodiram lá durante o apocalipse. Olhar para a paisagem destruida fez Karona pensar em Yawgmoth e ela se viu nele, ao perceber que ambos haviam causado grande devastação e que foram ambos rejeitados por Gaea. Entretanto, a voz assombrada de Yawgmoth novamente invadiu seus pensamentos e pediu para que ela continuasse em seu plano. Tendo sido avisada por Sash e Waistcoat que aquelas palavras eram idênticas às que Arien havia usado para atraí-la para a armadilha, Karona decidiu deixar o plano.

Novamente ela sentiu o forte puxão das Eternidades Cegas quando tomou ontro caminho atrás de outro plano. Dessa vez o brilho refletido por um metal esplendoroso encontrou seus olhos e à distância estava um homem. Karona se aproximou do homem e ele humildemente confessou ser o modesto servo de Lorde Macht, o criador do plano. Entretanto, como ele era a única pessoa a vista, Karona facilmente viu através do ardil imposto ao homem e o abraçou, acreditando que ele era na verdade o próprio criador do plano. Sendo liberto de sua consciência, o agradecido Lorde Macht transportou Karona para Dominária.

Enlouquecida pelo seu próprio poder, ou, talvez, por seu contato com Yawgmoth, Karona apareceu sobre os céus de Eroshia e exigiu que os habitantes se curvassem em adoração ou seriam mortos por uma repentina explosão mágica. Com Sash e Waistcoat gritando para os habitantes para se curvarem, poucos resistiram e esses foram instantaneamente aniquilados quando Karona enviou uma onda de mana para a cidade.

Desejando reunir mais seguidores para seu esquema louco, Karona decidiu que Aphetto seria sua próxima parada. Entretanto, como Aphetto era a fortaleza dos cabalistas que já adoravam seu próprio deus, Karona encontrou apenas cerca de quinhentos cidadãos que estavam dispostos a abraçar novos ideais. Liderando os desacreditadores estava um jovem garoto, com não mais do que dez anos, que clamava ser a reincarnação de todos os mortos da cabala. Revoltada com o mal tratamento, Karona tirou seus fiéis da cidade antes de obliterá-la por inteiro com uma grande onda de magia. tendo conseguido um massiço culto de devotos, Karona colocou seus olhos em Averru, onde ela esperava acertar as contas com os Numena e Kamahl.

"Levanta-se novamente, então você poderá continuar a destruir nossos inimigos."

Em algumas horas Karona e seus discípulos chegaram a Averru e então ela mandou os dois para desafiar o bárbaro párdico. Os dois retornaram e disseram a ela que os habitantes não iriam permitir que ela entrasse na cidade e eles estavam preparados para aguentar um cerco. Eles também revelaram os planos de Kamahl de matá-la com a espada do Mirari. Vendo que a grande maioria dos habitantes consistiam de glifos animados, Karona desencadeou uma magia que demoliu tudo. Então, tudo o que restava em Averru era um amontoado de construções abandonadas, Kamahl, o centauro general Stonebrow e os três Numena.

Karona entrou na cidade abandonada e descobriu que o deplorável grupo havia preferido buscar abrigo dentro de uma cidadela a encarar sua ira. Vendo que havia pouco que ela pudesse fazer, a deusa onipotente decidiu sepultá-los cobrindo a cidadela inteira com uma grossa camada de pedras. Uma vez fechados lá dentro os cinco teriam que lutar para conseguir fugir ou então sofrer de fome e asfixia. Em momentos, Kuberr estava morto e sua pequena figura destruída sob toneladas de pedras.

Logo Kamahl, Stonebrow e Lowallyn conseguiram sair da cidadela e o Numena usou sua mágica mística para dar vida à um amontoado de rochas, tornando-o num golem que ameaçou tirar a vida da poderosa deusa. Entretanto Karona não podia ser vencida tão facilmente, pois o que seria a mágica se não um modo de mudar o rumo da guerra? Usando uma magia de controle, Karona ganhou o controle do golem e o incitou contra seu mestre. O golem controlado foi parado, mas não antes de esmagar Lowallyn sob seu enorme peso. Com dois dos três Numena mortos, Averru buscou níveis épicos de energia mágica e foi capaz de manifestá-la dentro da cidadela. Entretanto, Karona pôde facilmente despachá-lo com uma repentina carga de energia diretamente no olho central de Averru.

Apenas Kamahl e Stonebrow sobraram e após a perda de seus três maiores jogadores eles podiam fazer muito pouco além de lutar contra Karona até o fim. Felizmente, Karona não acreditava que Stonebrow era uma ameaça e simplesmente o deixou imóvel com a ajuda de suas magias. Então começou uma batalha épica entre um ser onipotente e um homem com uma grande espada. Nos primeiros momentos da batalha, Karona tirou a espada do Mirari das mãos de Kamahl e foi em direção dele para o golpe de misericórdia.

Mesmo no que deveria ser seus momentos finais, o poderoso Kamahl desafiou Karona, alegando que milhares prefeririam morrer a se curvar diante de um falso deus como ela. Karona levantou seu braço para o golpe final mas repentinamente parou quando a dor inundou seu corpo. Ela logo viu a ponta da espada do Mirari saindo de seu peito. Olhando para trás Karona viu as formas trêmulas de Sash e Waistcoat implorando por seu perdão, enquanto diziam que aqueles eram os planos de Lorde Macht para fazer tudo voltar ao normal. Enquanto morria não se convenceu e com seu último suspiro ela acusou Lorde Macht de conspirar para roubar seus poderes...

Após seu falecimento, Lorde Macht levou seu corpo e a espada do Mirari para o plano de Argentum. Lá, ele removeu a espada de seu peito e poderes antigos novamente intervieram. O corpo mágico de Karona se dissipou e retornou as almas de Akroma, Zagorka e Phage. As essências de Akroma e Zagorka espalharam-se aos quatro ventos, significando o fim da tirania de Karona.





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